Como não ver que o mais biológico - nascimento, o sexo, a morte – é, ao
mesmo tempo, o mais impregnado de símbolos e de cultura? Nascer, morrer,
casar-se são também atos religiosos e cívicos. Nossas atividades biológicas
mais elementares, comer, beber, dormir, defecar, acasalar-se estão
estreitamente ligadas a normas, interdições, valores, símbolos, mitos, ritos
prescrições, tabus, ou seja, ao que há de mais estritamente cultural. Nossas
atividades espirituais (refletir, meditar) estão ligadas ao cérebro, e as mais
estéticas (cantar, dançar) estão ligadas ao corpo. O cérebro, pelo qual
pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão, com a qual escrevemos, são
totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, culturais. Morin (2007, p. 53).
O importante é a constante busca e, buscando estudamos, e estudar implica
na formação de uma disciplina rigorosa que forjamos em nós mesmos, em nosso
corpo consciente. Não pode esta disciplina ser doada ou imposta a nós por
ninguém sem que isto signifique desconhecer a importância do papel do educador
em sua criação. De qualquer maneira, ou somos sujeitos dela ou ela vira pura
justaposição a nós. “Ou aderimos ao estudo como deleite, ou o assumimos como
necessidade e prazer ou o estudo é puro fardo e, como tal, o abandonamos na primeira
esquina”.
No dizer de Paulo Freire, “estudar é um que-fazer exigente em cujo
processo se dá uma sucessão de dor, de prazer, de sensação de vitórias, de
derrotas, de dúvidas e de alegria”.
Mas a dor do
aprendizado é diferente da dor física causada, por exemplo, por exercícios com
os halteres na academia de ginástica. O esforço para aprender com exercícios,
individuais ou em grupos, gera um conflito interior que se passa no ethos do indivíduo, e quando estamos com pressa de querer
aprender e encontramos dificuldades, ficamos ansiosos, tensos, porque estamos
demorando muito para dominar a arte de brincar... Ou o aprendizado acontecer. Enquanto
os outros aprendizes estão se divertindo, saboreando os brinquedos do parque de
diversão do conhecimento, ou seja, dominando as ferramentas do
aprendizado. Talvez, o aprendizado de
fato só venha a acontecer a partir da adversidade... num constante crescer e se
desenvolver interiormente. O poeta William Blake diz que: “O prazer engravida”.
“O sofrimento faz nascer”.
Na jornada de eternos aprendizes nos
deparamos com professores que são marcantes, tanto no sentido positivo quanto
no negativo. Lembro-me de um professor que chamava a nossa atenção com
severidade, proferindo uma frase com certo ar de “medo” que era: “o aprendizado só acontece com a dor”.
Confesso que concordo, mas também discordo desse enunciado, talvez, pela
simples ousadia de discordar para aprender um pouco mais.
E, para tanto,
recorro a Adorno (2007, p. 128) quando afirma:
A
idéia educacional da severidade, em que irreflitidamente muitos podem até
acreditar, é totalmente equivocada. A
idéia de que a virilidade consiste num grau máximo da capacidade de suportar
dor há muito se converteu em fachada de um masoquismo que – como mostrou a
psicologia – se identifica com muita facilidade ao sadismo. O elogiado objetivo
de “ser duro” de uma tal educação significa indiferença contra a dor em geral.
No que, inclusive, nem se diferencia tanto a dor do outro e a dor de si
próprio. Quem é severo consigo mesmo adquiri o direito de ser severo também com
os outros, vingando-se da dor cujas manifestações precisou ocultar reprimir.
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