Por que falar de ócio?
[...] Diante do mundo de evasão, distração espetáculo que nos rodeia, o ser humano se torna cada vez mais limitado, cada vez mais dependente das máquinas, menos ator e mais espectador de uma realidade irreal. Falar de ócio se transforma neste contexto, num questionamento de cada um consigo mesmo, de como ser um pouco mais livre para fazer o que se quer. (...) a vivência de ócio é uma experiência que nos ajuda a nos realizar, nos conhecer, nos identificar, nos sentir melhores, sair da rotina, fantasiar e recuperar o equilíbrio das frustrações e desenganos.

(Cuenca, 2003, p. 32).

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ame o que você faz - parte 3



Como não ver que o mais biológico - nascimento, o sexo, a morte – é, ao mesmo tempo, o mais impregnado de símbolos e de cultura? Nascer, morrer, casar-se são também atos religiosos e cívicos. Nossas atividades biológicas mais elementares, comer, beber, dormir, defecar, acasalar-se estão estreitamente ligadas a normas, interdições, valores, símbolos, mitos, ritos prescrições, tabus, ou seja, ao que há de mais estritamente cultural. Nossas atividades espirituais (refletir, meditar) estão ligadas ao cérebro, e as mais estéticas (cantar, dançar) estão ligadas ao corpo. O cérebro, pelo qual pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão, com a qual escrevemos, são totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, culturais. Morin (2007, p. 53).
O importante é a constante busca e, buscando estudamos, e estudar implica na formação de uma disciplina rigorosa que forjamos em nós mesmos, em nosso corpo consciente. Não pode esta disciplina ser doada ou imposta a nós por ninguém sem que isto signifique desconhecer a importância do papel do educador em sua criação. De qualquer maneira, ou somos sujeitos dela ou ela vira pura justaposição a nós. “Ou aderimos ao estudo como deleite, ou o assumimos como necessidade e prazer ou o estudo é puro fardo e, como tal, o abandonamos na primeira esquina”.
No dizer de Paulo Freire, “estudar é um que-fazer exigente em cujo processo se dá uma sucessão de dor, de prazer, de sensação de vitórias, de derrotas, de dúvidas e de alegria”.
Mas a dor do aprendizado é diferente da dor física causada, por exemplo, por exercícios com os halteres na academia de ginástica. O esforço para aprender com exercícios, individuais ou em grupos, gera um conflito interior que se passa no ethos do indivíduo, e quando estamos com pressa de querer aprender e encontramos dificuldades, ficamos ansiosos, tensos, porque estamos demorando muito para dominar a arte de brincar... Ou o aprendizado acontecer. Enquanto os outros aprendizes estão se divertindo, saboreando os brinquedos do parque de diversão do conhecimento, ou seja, dominando as ferramentas do aprendizado.  Talvez, o aprendizado de fato só venha a acontecer a partir da adversidade... num constante crescer e se desenvolver interiormente. O poeta William Blake diz que: “O prazer engravida”. “O sofrimento faz nascer”.
Na jornada de eternos aprendizes nos deparamos com professores que são marcantes, tanto no sentido positivo quanto no negativo. Lembro-me de um professor que chamava a nossa atenção com severidade, proferindo uma frase com certo ar de “medo” que era: “o aprendizado só acontece com a dor”. Confesso que concordo, mas também discordo desse enunciado, talvez, pela simples ousadia de discordar para aprender um pouco mais.
E, para tanto, recorro a Adorno (2007, p. 128) quando afirma:

A idéia educacional da severidade, em que irreflitidamente muitos podem até acreditar, é totalmente equivocada.  A idéia de que a virilidade consiste num grau máximo da capacidade de suportar dor há muito se converteu em fachada de um masoquismo que – como mostrou a psicologia – se identifica com muita facilidade ao sadismo. O elogiado objetivo de “ser duro” de uma tal educação significa indiferença contra a dor em geral. No que, inclusive, nem se diferencia tanto a dor do outro e a dor de si próprio. Quem é severo consigo mesmo adquiri o direito de ser severo também com os outros, vingando-se da dor cujas manifestações precisou ocultar reprimir.

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