Por que falar de ócio?
[...] Diante do mundo de evasão, distração espetáculo que nos rodeia, o ser humano se torna cada vez mais limitado, cada vez mais dependente das máquinas, menos ator e mais espectador de uma realidade irreal. Falar de ócio se transforma neste contexto, num questionamento de cada um consigo mesmo, de como ser um pouco mais livre para fazer o que se quer. (...) a vivência de ócio é uma experiência que nos ajuda a nos realizar, nos conhecer, nos identificar, nos sentir melhores, sair da rotina, fantasiar e recuperar o equilíbrio das frustrações e desenganos.

(Cuenca, 2003, p. 32).

sábado, 12 de maio de 2012

Ame o que você faz - parte 4


Nesse sentido ninguém pode aprender sob pressão. As pessoas aprendem quando estão abertas ao inesperado, quando procuram dentro de si mesmas, quando lhes é permitido sonhar, quando são levadas por uma espécie de sede interior. As pessoas realmente aprendem quando estão ocupadas com alguma coisa: amando, trabalhando, amando seu trabalho, trabalhando na área que gostam.
            A educação moderna exagerou na importância da técnica, desenvolvendo capacidades e eficiências, sem a compreensão da vida, sem uma percepção total dos movimentos da mente e do desejo, tornando-nos cada vez mais cruéis, e isso significa fomentar guerras e por em perigo nossa segurança física.
            Vivemos numa época que podemos nomear de “sociedade do conhecimento”, devido ao fato que ocorre atualmente, isto é, ao acúmulo de conhecimentos humanos, e o ritmo desta acumulação ganhou nova velocidade, uma vez que os avanços nas diversas áreas interagem e potencializam a produção ainda mais rápida de novos conhecimentos. Fatores como a globalização e o desenvolvimento nas tecnologias de informação e comunicação estão na base da nova ordem social, econômica, cultural e política. O fato é que também estamos transbordando de informações, entretanto, sem tempo hábil para elaborar o conhecimento que já adquirimos e, pior, sem saber o que fazer com tanta informação.
            Neste contexto, não tem mais espaço para o professor que pensa ensinar como transmissão de conhecimento e que não cria possibilidades para sua própria produção ou a sua construção.  Hoje, o professor necessita ampliar a sua visão sobre “o aprender a apreender como um processo de ensino/aprendizagem,[1] como também quanto a dificuldade de ensinagem [2]”, aprimorando seu autoconhecimento e a sua compreensão nas relações com os alunos, não devendo encará-los como máquinas, passiveis de “endireitar” num instante, mas como seres vivos, impressionáveis, volúveis, sensíveis, medrosos, afetivos; e no trato com eles necessitamos de muita compreensão, da força da paciência e do amor. Mesmo porque, o aprendizado só é difícil quando está relacionado a ensinar e estudar, do contrário, as pessoas parecem aprender sem muito esforço. Cabe aos atuais, futuros professores mudar esse paradigma.
Meu pai costumava dizer: “Na vida, nada é perdido, tudo é aproveitado”. Complemento ainda, que mesmo aquilo que no primeiro momento não nos parece fazer sentido, é simplesmente porque ainda não conseguimos perceber, e isso, somente com o tempo e a maturidade poderá ser revelado ou avaliado.
O ponto chave para a satisfação é algo que quase sempre nos escapa. De maneira que não se trata de conseguir o que queremos, mas sim querer aquilo que conseguimos. Assim, antes de ser mestre, precisamos ser aprendizes. Esticar o pescoço para enxergar mais, sem ter vergonha de perguntar. Quem pensa que sabe não aprende, não sonha novos sonhos, nem ousa novas ousadias. Sêneca dizia: “Gosto de aprender porque me capacita a ensinar”.
Lutamos muito, anos a fio, pelo sonho de liberdade. E, todos os tipos de liberdade. A liberdade de expressão, por exemplo, que é uma das mais belas formas. É através da palavra que exercemos a cidadania, consolidamos a democracia e fortalecemos nossas instituições. Entretanto, a consolidação da democracia só será possível, como disse Rubem Alves, se o povo for educado. E ser educado não significa ter alguns diplomas universitários. Significa ter a capacidade de pensar.
Enfim, sempre fica o aprendizado de uma outra lição de vida que é a da paciência, bom senso, de esperar o momento certo, perseverar. Às vezes esse momento demora um longo tempo, isto é, cada pessoa tem a sua trajetória de vida, o seu tempo. Quando encontramos muitas dificuldades na trajetória e conseguimos ultrapassá-las, damos mais valor para aquele evento realizado, conquistado. Se não, pelo menos podemos contar para aqueles que nos são queridos, que tentamos fazer o nosso melhor e, como retorno, dormimos na paz, com a consciência tranquila.
Assim, não podemos ter a presunção da verdade, a expectativa de se imaginar o dono da razão, pois essa, qualquer que seja nos apequena, nos menospreza e nos enfraquece.
Para Paulo Freire,
não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que - fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.



[1] Anastasiou e Alves (2003, p.18) enfatizam a concepções de que o apreender sugere movimento, processo que também está presente e é reforçado pelas respostas dos alunos quando dizem que aprendizagem é colocar em prática.

[2] Segundo Polly (2002, p. 36), “Dificuldade de Ensinagem é o movimento de ensinar carregado de emoção: ansiedade, por ter de cumprir uma missão, medo e/ou frustração por não entender o aluno, fantasias de incompetência que podem gerar muita raiva em determinadas ocasiões”.





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