Por que falar de ócio?
[...] Diante do mundo de evasão, distração espetáculo que nos rodeia, o ser humano se torna cada vez mais limitado, cada vez mais dependente das máquinas, menos ator e mais espectador de uma realidade irreal. Falar de ócio se transforma neste contexto, num questionamento de cada um consigo mesmo, de como ser um pouco mais livre para fazer o que se quer. (...) a vivência de ócio é uma experiência que nos ajuda a nos realizar, nos conhecer, nos identificar, nos sentir melhores, sair da rotina, fantasiar e recuperar o equilíbrio das frustrações e desenganos.

(Cuenca, 2003, p. 32).

terça-feira, 13 de março de 2012

Eu sou a porta



Entrei em contato com  Rajneesh (Bhagwan Shree Rajneesh), quando era assinante do  Circulo do Livro, inconformado com a sociedade que vivia e revoltado com as religiões, estava mais interessando nos livros sobre budismo e na cultura oriental de um modo geral. Adorava ler: Hermann Hesse, Khalil Gibran, George Orwell, Richard Bach, Lobsang Rampa, James Hilton... Os livros e o rock and roll faziam parte de mim, para onde eu ia levava o livro que estava lendo. Quando não estava lendo,  estava com o meu violão aprendendo a tocar alguma música nova dos Beatles.  
E foi nessa  busca incessante  que cheguei a um livro chamado 'Eu sou a Porta' de Rajneesh, na época era absolutamente estranho e diferente de qualquer outro que já tinha visto. Era um livro complexo, principalmente para aprendizes rebeldes como eu. Rajneesh dizia: “não há passado nem futuro. Você é eternidade. Tudo o que acontece é um acontecimento. Não é você que está fazendo, nada está sendo realizado através de você. Essas são noções ilusórias”. 
Rajneesh, na verdade, não se dizia um messias, salvador ou Deus, dizia apenas que tinha se iluminado e se tornado um ser desperto.
Mas, o livro, na época não me tocou, devia estar atônito com outro livro chamado: “Entre os Monges do Tibete” de Lobsang Rampa, escritor que alegava ter sido um Lama Tibetano... Assim, 'Eu sou a Porta' ficou na estante, outros livros chegaram as minhas mãos e a minha busca não cessou.
Cresci lendo os livros de poesia e filosofia, inicialmente, os de meu pai, depois os meus, e cada livro que lia procurava meu amigo Francesco¹ para debater o conteúdo e, as vezes, colocava meu pai contra a parede (literalmente), para discutir sobre o tema que estava me corroendo, criando uma oportunidade de aprofundamento em torno do assunto... Hoje, reflito que aqueles debates foram verdadeiros aprendizados para mim, muito mais útil que qualquer universidade poderia me oferecer na época.
Quando meu pai veio a falecer... fiquei com alguns de seus livros e, entre eles estava o livro: “Eu sou a porta”. Dessa maneira, o livro de Rajneesh retornou as minhas mãos, depois de mais de 30 anos.
Ao comentar sobre o livro de Rajneesh com meu amigo Eduardo, o mesmo me esclareceu que, na verdade, Rajneesh havia trocado seu nome em 1986 para Osho (sinônimo de “oceânico”), e que havia muitos livros publicados extraídos de suas palestras, porém, com o nome Osho. Acho que não preciso explicar que, com esse acontecimento adquiri alguns poucos livros que encontrei nas livrarias, como também DVDs de suas palestras. Assim, posso afirmar que Osho na minha vida foi e é um acontecimento.
Embora Osho nunca tenha escrito nenhum livro, 650 títulos foram criados e têm sido publicados por transcrições de seus discursos e palestras, atualmente para 57 idiomas, livros que até hoje fazem muito sucesso em muitos países, inclusive no Brasil. Osho pregava a meditação e criticava dogmas de religiões organizadas, idéias que nunca foram contestadas, como um Sidarta Gautama (Buda) moderno no meio dos brâmanes, contestou várias verdades estabelecidas. Quebrou vários tabus. Como Marx, dizia que algumas religiões fizeram mais mal que bem a humanidade.  Era hábil em causar impacto, chocar as pessoas... E os fundamentalistas não podiam aceitar um homem que dizia ser igual a Buda, Jesus, Krishna. 
Osho, nunca deixou de falar o que pensava. Criticava Gandhi por reprimir seus instintos sexuais. Considerava mestres espirituais ou grandes gênios, pessoas como: Gurdjieff, Ramana Maharshi, Jiddu Krishnamurti, Reich, Dostoievski, Meher Baba, D.H Lawrence, Alan Watts, D.T Suzuki, Shunryu Suzuki, Maurice Nicoll, dentre outros.
Osho dizia que só a meditação poderia libertar o homem, tão condicionado e escravo de seus instintos e de uma sociedade que se não mudasse em breve, levaria a todos à autodestruição. E no livro “Eu sou a porta” afirma:

“Deus” é o que acontece, não o criador, “Deus” significa o que vem acontecendo eternamente; assim, qualquer coisa que acontece é Deus. Todas as pessoas são acontecimentos, e este eterno acontecer é Deus. Não há criador nem criação. A própria dicotomia é egoísta; é nossa projeção no plano cósmico. Uma vez que você sabe que não há dicotomia dentro de si, entre o agente e a ação, sabe que dentro da própria existência não há agente nem ação, apenas acontecimentos. Quando você tem essa revelação dos acontecimentos eternos, não existe carga, não há tensão. Seu nascimento é um acontecimento e sua morte será um acontecimento. Não estar aqui será um acontecimento.
De onde vem esse ego que pensa “eu sou”, “eu estou fazendo”? Vem da memória. Sua memória vai gravando acontecimento; você nasceu, você é criança; depois vem a juventude e em seguida a velhice. As coisas acontecem: o amor acontece, o ódio acontece, e a memória vai gravando. Quando você olha para o passado, toda a memória acumulada torna-se seu “eu”.

Criou várias meditações catárticas, meditações ativas, pois dizia que os ocidentais precisavam de uma catarse, de liberar o conteúdo emocional e mental reprimido por séculos, assim como Willem Reich, Alexander Lowen, Abraham Maslow e outros psicólogos de renome atestaram em seus estudos.
Era a época dos escândalos e Osho ficou conhecido como o 'guru do sexo''. Título injusto, dado por quem nunca leu nenhum de seus livros. Na verdade Osho chegou a dizer que não existia ninguém no mundo mais contra o sexo irracional e por compulsão, do que ele... Mas, entendia também que os que precisam de sexo, por não serem  'iluminado' ou encontrado no seu interior sua parte feminina ou masculina, poderiam transformar o sexo, num ato sagrado, sublime. Uma porta para a Iluminação, para oitavas superiores.
E esse é o sexo tântrico que o Osho ensinava em suas palestras. Ele ensinava meditação, consciência. E podemos meditar em qualquer momento, inclusive no ato amoroso.
Tinha carisma, uma presença marcante... Citava quase todos os místicos e religiosos em suas palestras, como também os filósofos com uma eloquência digna de um gênio do conhecimento humano. Afinal de contas, foi professor de filosofia por longos anos.
Falava de Buda, Cristo, Sartre, Nietzsche, Heráclito, Santos Católicos, Krishna, Mahavir, Kant, Gibran, Bertrand Russel, Sufis, Moisés, dos Rabinos Hassídicos, com a mesma segurança e profundidade.
Mestres espirituais como o Dalai Lama, o XVI Karmapa, Deepak Chopra, Paul Reps, Nisargaddata, Robert Adams, Dzongsar Rinpoche, Ed Muzika, o chamam de mestre, de iluminado.
No livro “Criatividade – Liberando sua força interior”, nos propõe:
“dicas para uma nova maneira de viver! Explica que a criatividade é a maior forma de rebeldia da existência. E prossegue: A mentalidade coletiva não tem criatividade; seus membros levam uma vida enfadonha, eles não conhecem realmente a dança, a melodia, a alegria: são seres mecânicos.”
Osho diz que diferentemente do passado, quando os criativos precisavam se isolar da sociedade, hoje quase todas as pessoas são praticamente induzidas a lidar com seus desafios diários com criatividade, essa força poderosa e tão necessária para nosso crescimento interno e externo. Osho nos dá quatro chaves para a criatividade:
Volte a ser criança;
Mantenha-se disposto a aprender;
Procure a felicidade nas coisas simples e
Seja um sonhador.


¹FRANCESCO: nome fictício, pelo motivo de ter perdido o contato com esse amigo, assim, não me sinto a vontade para usar o nome dele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário